domingo, 27 de agosto de 2017

Volitar
 Tinha sempre notícias de casa, dos familiares. Continuava recebendo muitas orações, estímulos, votos de alegria e para que me adaptasse logo à vida Espiritual. Amigos escreviam, dando notícias minhas aos meus, pela psicografia, através da tia Vera.

Alegrei-me quando Maurício disse:

—Menina Patrícia, escreva um bilhete à sua mãe que transmitirei a sua tia.


Emocionada fiz o bilhete agradecendo-os pelo carinho, dizendo que estava bem e mandando abraços.


Comecei, então, sempre a escrever e um dos meus amigos transmitia à tia Vera. Estava tranquila, o desencarne para mim não fez grandes diferenças, por nenhum momento senti-me separada dos meus. 


Entendi que não perdi a individualidade, continuava a mesma, meu amor pela família era o de sempre. Não podemos separar nossa vida, ela é um todo, estar encarnada ou desencarnada são fases.

Recebia muito, compreendi também que somos heranças de nós mesmos. A reação é conforme a ação.

—Patrícia, — vovó me chamou — venha à sala, vou lhe dar as primeiras lições de volitação.


Fui depressa. Na sala estavam três das moradoras da casa que me incentivaram.


—É fácil! — falavam elas. —Você sabe, saía do corpo encarnada, enquanto dormia. É só firmar o pensamento e a vontade.


—Volitar — disse vovó como se tivesse decorado — é esvoaçar, volatear, locomover-se pelo ar pelo ato da vontade.


Vovó me pegou por um braço e D. Amélia por outro e ensinaram-me a dar o impulso. Tentamos várias vezes até que dei sozinha o impulso e levantei a um metro do chão. É mais fácil dar o impulso na vertical para depois ficar na horizontal.


Fiquei parada. De novo recebi ajudas das duas que devagar me empurraram. Incentivaram-me alegres.

E, realmente, não foi difícil, logo estava no meio da sala volitando devagar de um lado a outro.

—Até aprender realmente, não se distrais — vovó recomendou. — Volitar é como aprender a andar quando se está encarnada, a pedalar uma bicicleta, ou nadar. Depois que aprende a dominar, faz
automaticamente.


Sabia o que era volitar, lera sobre o assunto em diversos livros Espíritas. A sensação que tinha era de voar. Realmente é muito agradável e bom volitar. Sabia também que espíritos desencarnados atravessam paredes, portas, etc.


Dei um forte impulso e rumei para a parede, escutei vovó:


—Não, Patrícia, não!


Bum... Bati a cabeça na parede e caí sentada no chão. Minhas amigas correram e rodearam-me, ninguém riu. Olhei para elas e acabei rindo. Fora um tombo e tanto. Levantei e quis saber.


—Ei, vovó, por que não pude atravessar a parede?


—Patrícia, você só poderá atravessar quando souber. Você leu que desencarnados atravessam paredes, portas, mas de construções de matéria, ou seja, casas de encarnados. Assim mesmo, os que sabem.


Os que têm consciência do seu estado desencarnado e aprenderam.

—Só os bons sabem? — indaguei.


—Não, os maus sabem e se utilizam muito deste conhecimento.


Saber depende da nossa vontade, do livre-arbítrio e todos podem. Os bons sabem mais porque têm mais quem os ensina e mais interesse em aprender. A construção da Colônia não é como a construção dos encarnados. A Colônia é uma projeção mental. Para que entenda, é feita da matéria sutil como a do nosso perispírito, como este corpo que agora estamos revestidas. Certamente, há os que sabem atravessar esta matéria sutil, tanto os irmãos superiores como os inferiores. Embora nossos irmãos superiores, designo-os assim para que possa entender, quanto mais harmonizados com o Cosmos, maior poder mental têm. Para transpor uma barreira mental é preciso não duvidar do poder de fazê-lo. Já vi um instrutor fazer. Ele projetou uma passagem e atravessou. Mas isto é usado somente para alguma eventualidade. Você não escutava, quando encarnada, que em Centros Espíritas para determinada ajuda irmãos desencarnados ficam confinados a um loca, até poderem ser orientados?


Em muitos Centros Espíritas junto com a construção material é também projetada esta energia mental pelos benfeitores. Assim, tanto encarnados como desencarnados só podem entrar e sair pela porta. Estas projeções também são feitas em certos lugares e por determinado tempo para evitar ataques das trevas. Atravessam só os que sabem e conseguem. Talvez, se você quiser, irá aprender no futuro.


Realmente, não tinha visto ninguém entrar na nossa casa e nem em qualquer outro local na Colônia volitando. Todos entravam e saíam tranquilamente pela porta, abrindo-a e fechando-a.


Achei graça do meu tombo e ainda acho graça quando recordo.


Anos depois, estava ensinando meu primo a volitar e lembrei do fato.


Resolvi brincar com ele.


—Vamos, Rodolfinho, venha! É isto aí! Vai!


Rumei para a parede e soltei. Segurei o riso. Pensei que, como eu, iria bater a cabeça. Mas Rodolfinho não sabia que desencarnados atravessam paredes, não viera como eu com conhecimentos do Plano Espiritual.


Ele chegou perto da parede, apalpou-a com a mão, virou a cabeça e indagou:


—Patrícia, que faço agora?


—Vira e volta — disse um pouco decepcionada.


Aprendi em poucas lições a volitar pela casa, pelo nosso jardim.


Pensava em volitar, firmava o pensamento, subia metros do chão e ia para onde queria. Vovó me levou ao campo, ou pátio da escola, onde instrutores ensinam a volitar. Fui toda contente.


A escola é muito grande, tem várias áreas e muitos prédios. É muito bonita e agradável, é rodeada de árvores e muitos canteiros floridos.


O pátio é grande, parte gramado, parte ladeado com lindos ladrilhos cinza-claro, em sua volta há bancos e flores. Na Colônia São Sebastião este campo é repartido em duas áreas. Numa parte os principiantes aprendem a volitar, na outra a alimentar-se pela respiração. 


Escutam-se pela Colônia músicas agradáveis e suaves. Nos pátios o som é mais alto, porém, não menos agradável. A música suave relaxa e incentiva o trabalho e o aprendizado.

Fiquei encantada, admirando tudo curiosa. Na parte ou campo de volitação, havia cinco instrutores. 


Cada um com um pequeno grupo de aprendizes. O primeiro grupo, do qual estávamos perto, tinha uns desencarnados que não davam impulso. O instrutor carinhosamente tentava ajudá-los, mas eles pareciam temer. Indaguei a vovó:

—Por que eles nem querem dar impulso? Será que não gostam de volitar?


—Talvez duvidem que conseguirão. Nem todos, Patrícia, aprendem fácil ou gostam de aprender. Sei de muitos desencarnados daqui da Colônia que não sabem porque não querem aprender.


—Será que estes conseguirão?


—O fato de eles estarem aqui é porque querem aprender. Muitos deles, não tendo nem idéia quando encarnados desta possibilidade, desencarnados estranham muito e, pior, duvidam. Mas quem quer, aprende.


Vovó me inscreveu no curso. Tudo bem organizado, tem dia e hora marcado.


Fui apresentada ao primeiro instrutor que me interpelou.


—Patrícia, conhece alguma coisa sobre volitação?


—Conheço.


—Ótimo.


Pegou nas minhas mãos e deu impulso, saí tranquila a volitar.


—Oh! Você deve passar para a turma três.


—O curso tem cinco fases, cada fase com um instrutor. Como já tinha aprendido o básico fui para a terceira fase. Recebi uma apostila para estudar sobre volitação. É bem organizado. Aprendi rápido, em poucas lições concluí o curso e estava apta a volitar. A volitação pode ser feita de vários modos: devagar, rápido, rapidíssimo, na vertical e na horizontal.


Devagar é como se andasse, só que acima do chão. Na Colônia volita-se pouco, é mais comum andar pelas suas ruas, avenidas e praças. Normalmente, volitamos devagar. Rápido, quando há mais pressa; e rapidíssimo, o último que aprendemos, volita-se como se fosse desmaterializar para se materializar em outro lugar. Volita-se deste modo a longas distâncias. Vai-se, por exemplo, de um ponto a outro da Terra, em segundos. Na vertical, é usada para a locomoção rápida. Na horizontal, quando se quer apreciar a paisagem.


As crianças e jovens aprendem a volitar nos pátios do Educandário.


O corpo perispiritual é mais denso, quanto mais a personalidade se confunde com o corpo animal, se desligando da aparência animal, ele está onde quer, pois se cosmifica. 



Volitar é privilégio de desencarnados. (Certamente que encarnados volitam quando estão com seus corpos físicos dormindo em desdobramento. Mas a sensação agradabilíssima é só para desencarnados que sabem.) Ah, que grande e maravilhoso privilégio!

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