domingo, 27 de agosto de 2017

Sentindo As Dificuldades 

Visitei, com Maurício, meus pais.

Ao chegar em casa, assustei-me.

Al lado de minha mãe estava um espírito perturbado na maldade. 


Feio, sujo, com cabelos e barba crescidos, olhos verdes grandes e olhar cínico.

Tentava incutir na minha mãe a idéia que eu sofria. Falava rindo, olhandoa fixamente. —Patrícia sofre no Umbral. Está infeliz sua filha. Chora chamando por você. Que lhe valeu ser boa, ser espírita? Isto não impediu que ela morresse. Ela sofre!


—Ora, — falei indignada — que maldoso!


Achei que Maurício fosse retirá-lo, porém meu amigo não fez nada.


Olhei suplicando sem nada pedir.


—Patrícia, nós desencarnados não podemos fazer o que compete aos encarnados, mesmo amando-os demais. Sua mãe sabe lidar com estes irmãos infelizes. Ele lhe fala, mas escuta também. Ela pode responder e orientá-lo ou simplesmente não lhe dar atenção.


—Não posso ajudá-la?


—Você sabe?


Senti-me impotente e desejei mais que nunca aprender. Pensei por segundos, só sabia neutralizar forças nocivas com orações. Era o bastante. Concentrei-me e orei com fé para este irmão. Ele inquietou-se e saiu rápido da nossa casa. Aproximei-me de mamãe, falei a ela:


—Mamãe, sou feliz! Não dê atenção a aqueles que a querem perturbar. Amo-a!


Mamãe sentiu-se bem e foi com alívio que escutei seu pensamento.


“Patrícia está feliz! Não vou mais pensar o contrário”.


—Ele voltará? — indaguei a Maurício.


—Acho que sim. Se voltar, sua mãe é livre para escutá-lo ou não.


Confiemos no seu bom senso.


Fomos ver meu sobrinho. Ele estava adoentado, não dormira à noite, sentia os fluidos nocivos de encarnados e desencarnados. 


Como criança é sensível, sentia muito. Por momentos, fiquei triste.

—Patrícia, tristeza não ajuda — Maurício me orientou. — Ore por ele, e lhe dê um passe, disperse estar energias negativas.


—Coitado, tão pequeno e sofre! Sinto-me impotente para ajudá-lo.


—Não pode sofrer no lugar deles. Cada um tem a lição para fazer que compete ao seu aprendizado. É por isso que nem todos desencarnados conseguem autorização para visitar encarnados queridos.


Necessitam para estas visitas estar aptos, conscientes dos problemas que poderão encontrar. 


Ver entes queridos sofrendo não é fácil, principalmente sabendo que nem sempre é possível ajudá-los.

Dias depois, meus pais foram visitar minha tia. Maurício e eu fomos vê-los. Meu pai estava recebendo muitos ataques das trevas e, com ele, todos de casa. Mais que nunca esta frase veio à minha mente, como certa:


 “Onde há luz, as trevas tentam apagá-la”.

Minha priminha sensitiva estava preocupando a família. Nenhum espírito estava perto dela, irmãos perturbados não entravam na casa de minha tia. Mas eles podem agir de longe e estavam fazendo.


Concentravam-se nela e faziam parecer que estava obsedada. Ela estava chorona e irritada. Faziam com que ela tivesse hábitos que eu tinha quando encarnada. Queriam que pensassem que era eu que a obsedava.


Meu pai concentrou-se, orou, deu passes nela destruindo o vínculo que a ligava a estes irmãos nas trevas do erro. Ela voltou ao normal.


Fiquei preocupada. Maurício me esclareceu:


—Patrícia, estes irmãos necessitam de orientação e vamos
doutriná-los nas reuniões de desobsessão.


—Mas, enquanto isto, irão perturbar.


—Os encarnados sabem se defender. Não viu seu pai orar e desintegrar pela força mental o que eles construíram? Ainda teremos estes irmãos como amigos.


Vendo-me um pouco decepcionada e indignada, Maurício continuou esclarecendo-me.


—Emmanuel disse sabiamente em um de seus, ditado ao Chico Xavier: “Ninguém socorre um náufrago sem sofrer o chicote das ondas”. A luz sustentada na fé e na sapiência se fortalece com ataques contra. É com seus sopros que a engrandece. Um perturbador pode nos induzir ao mal. Neste ambiente hostil, o encarnado pode ceder e agir em oposição às leis Divinas. O espírito perturbador pode nos fazer mal, sofremos com seu assédio. Presença esta que pode nos atingir até o corpo físico, mas em momento algum ele pode nos tornar maus. É neste ambiente hostil que o servo bom e fiel fortifica e consolida a sua vivência para Deus. Por isto, se impedirmos que um ente querido seja testado quando ele aqui estiver, pode acontecer que se sinta frustrado pois não tem certeza se, passando novamente pela mesma situação, terá forças para superá-la. Porque, Patrícia, há uma grande ilusão em muitos crentes quando esperam um céu sem problemas. Oposição e composição fazem parte da atividade da criação Divina. Dialogando sobre este ponto, me vem à lembrança o chamamento do grande mestre: “Vinde a mim todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, eu vos aliviarei. 


Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus, XI:28-30)

Meu amigo fez uma ligeira pausa e continuou a me elucidar.


—Veja bem, Ele não nos induz a pensar que nos irá proporcionar uma vida ociosa, mas, sim, que aprenderemos com Ele que as dificuldades que porventura venhamos a passar não devem ser vistas como castigo, mas sim como situações que nos põem à prova. Se vencidas, provamos o sabor da vitória sobre nossas inferioridades, se sucumbirmos, provamos o fel da derrota moral. 


Veja bem, o seu caso:

nasceu numa família igual a milhares de outras. Veio ao mundo físico, partiu e não deixou marcas. Você, ao ler e ouvir orientações sobre o aprimoramento da personalidade, acordou para o desenvolvimento do potencial humano de ser bom conscientemente, por livre e espontânea vontade. Você sente, saberá com detalhes no futuro, que teria um final de vida no corpo físico mais ou menos difícil. No entanto, com seu constante exercício na atitude do Bem quitou suas dívidas passadas, desencarnou tranquilamente. Na verdade, nem viu esta passagem, quando acordou estava entre amigos.


Maurício silenciou e fiquei a pensar. Meu amigo tinha razão, agradeci com um sorriso sua preciosa lição.


Voltamos à Colônia, pensei bem em tudo que vi e ouvi de Maurício.


Só então entendi o porquê de muitos internos na Colônia não terem autorização para ver seus familiares. Ao vê-los felizes, nos alegramos. Ao vê-los em dificuldades, temos que ser fortes, porque, às vezes, só nos resta chorar junto.


Sei de muitos casos tristes que ocorreram com internos da Colônia ao visitar familiares. Porque não é fácil para uma mãe ver seus filhos pequenos órfãos, às vezes jogados na rua ou com madrasta a lhes judiar.


Ou para um pai ver seus filhos brigarem pela fortuna, ou um filho roubando o outro. E a filha ou o filho verem os pais maldizerem a Deus pelo seu desencarne. Não é fácil saber aqui, desencarnado, de traições e que entes queridos se afundam no vício. Necessitam os desencarnados estar preparados, firmes no conhecimento para superar estes fatos.


Porque, não estando aptos, podem se desesperar. Mesmo para os que aprenderam a amar todos como irmãos, os que pelo estudo e trabalho se tornam moradores na Colônia, servos do Pai, sentem os sofrimentos daqueles a quem amam. Só os que sabem entendem que tudo tem razão de ser, que mesmo os amando não podem interferir no livre-arbítrio deles, e que a colheita pertence a cada um.


Nestes momentos solidários com o sofrimento de entes queridos, me vem à memória o aparente desabafo do gigante e genial Nazareno, na sua célebre frase: “Ó geração infiel e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrerei”? (Lucas, IX:41)


Eu, tantas vezes desejei ardentemente nestes anos ajudá-los, sofrer no lugar deles. Mas não se pode fazer a lição do outro. 


Aquele que faz a lição que cabe a outro, impede-o de aprender. No meu entendimento se comete uma grande falta de caridade privar alguém de aprender.

Assim, sempre que os sinto com problemas, oro, mando fluidos de coragem, incentivando-os a aproveitar do melhor modo o aprendizado. As dificuldades vencidas nos impulsionam ao progresso, Problemas resolvidos, lições aprendidas.

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