domingo, 27 de agosto de 2017

Mudança
No outro dia, de manhãzinha, vovó veio me buscar, acabou ajudando-me.

Colocamos meus pertences numa sacola de lona.


—Agora vamos, Patrícia. Iremos devagar, assim irá conhecendo a Colônia.


—Não vou me despedir de ninguém? Agradecer?


—Os amigos que cuidaram de você continuarão a vê-la. Maurício continuará ajudando-a. Não necessita nem se despedir nem agradecer.


Você irá gostar de minhas amigas, todas trabalham, vêm em casa somente algumas horas por dia. Estão nos esperando em casa para lhe dar as boas-vindas. A nossa casa é também sua e quero que se sinta à vontade. Ficará conosco até que inicie o curso que irá fazer. Neste curso, aprenderá como é ser e viver desencarnado.


Vovó me puxou pela mão, falava me animando. Olhei pela última vez o quarto e saímos. As palavras de papai soaram forte dentro de mim: “Coragem, não entristeça, receba o que lhe oferecem com alegria.”


Passamos por outro corredor e fomos à recepção. Fiquei encantada com um bonito quadro pintado a óleo, que enfeitava uma de suas paredes.


O artista retratou Jesus ensinando, procurou descrever a formosa cena do Sermão da Montanha. Vovó, pacientemente, por minutos, esperou que contemplasse o quadro. Saímos do prédio. O hospital tem várias entradas, ele é todo rodeado por um bem cuidado jardim, com árvores frondosas e flores encantadoras.


Chegamos à rua. As ruas são largas, arborizadas e limpas. Observei o céu, lindo de um tom de azul que não tenho palavras para comparar aos encarnados. Dei um longo suspiro. Senti-me livre e pensei: se pudesse, voaria; a sensação de liberdade é muito forte.


—Vovó, não posso ir voando? Parece que posso sair e voar.


—Poderá voar quando aprender a volitar. Você encarnada se desprendia do corpo, quando este dormia, e volitava. Você sabe, irá recordar. Ensiná-la-ei outro dia.


Por algumas vezes, puxei o ar com força. É delicioso respirar o ar puro, perfumado e leve.


—Vovó, não é estranho estar respirando? Como a senhora disse, logo estarei volitando, voando, mas ao mesmo tempo respiro, sinto meu coração bater.


—Não é tão estranho assim. Acredito, Patrícia, que você sabe muito mais do que eu. 


Quando encarnada não tive estudos, entendia
pouquíssimo do Plano Espiritual. Agora, aqui, tenho estudado, aprendo com alegria. Você sabe que nós desencarnadas, estamos revestidas pelo perispírito. (A substância do perispírito não é a mesma em todos os globos; é mais eterizada em uns do que em outros. Ao passar de um para outro mundo, o Espírito se reveste da matéria própria de cada um, com mais rapidez que o relâmpago. O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.) Nosso  espírito ainda veste esta roupagem que é constituída de corpúsculos fluídicos de consistência variável. A impressão do corpo é forte.


—Quero aprender tudo que puder!


Encontramos com muitas pessoas, cumprimentavam-nos alegremente. Entendi que a maioria transitava para o trabalho.


Paramos várias vezes para que contemplasse ora os pássaros, ora flores. Pelas ruas e jardins existem muitas árvores frutíferas. São de
muitas espécies. Algumas conhecia, outras só de nome, são árvores oriundas da Região Norte, Nordeste e de outros países. Nas Colônias seus hóspedes e moradores aprendem a respeitar a natureza, ninguém estraga nada. As plantas são bem cuidadas e seus frutos são colhidos no tempo certo.


Até hoje, gosto de ver estas árvores, conheci todas as espécies existentes na Colônia e experimentei de seus frutos. São muito saborosos.

Paramos numa praça de forma arredondada, com lindos canteiros floridos e bancos confortáveis. Sentamos e fiquei muito tempo olhando com admiração para um chafariz com formato de uma rosa, ladeada por lindos peixes que soltam água pela boca. A rosa e os peixes parecem ser de plástico duro fosforescente. Coloridos, as cores combinam harmoniosamente. Em toda a praça vibra uma música suave.


Vovó, vendo-me a observar as pedras do chafariz, disse contente:


—Ontem, ouvi uma linda palestra e, agora, vendo-a olhar as pedras, recordei-a.


—Vovó, me fale desta palestra, o que de interessante ouviu?


—Tentarei lhe explicar com minhas palavras o que achei de mais interessante, o que esse sábio orador expôs, nos presenteando na noite de ontem. Jesus, nas suas célebres parábolas, nos fala das várias  situações e circunstâncias que o ser humano passa durante o seu período evolutivo, nas sua permanência no orbe terrestre. 


Falando de rochas nos vem à lembrança seu ensinamento que diz ser sábio o homem que construiu a casa sobre a rocha. O vendaval, a tempestade da mente e a dos sentidos atingem a todos os homens indistintamente, maus e bons.

Estas circunstâncias atingem a toda a humanidade.


Jesus sempre usou símbolos físicos para colocar neles um grande significado espiritual. 

A rocha é o símbolo de firmeza e da imutabilidade, pois podemos quebrá-la, fragmentá-la, mesmo assim sua natureza foi e será sempre rocha. Assim é o homem consciente de que não é apenas uma personalidade passageira. Sabe que sobrevive à vida do corpo mortal, suporta, ou melhor dizendo, tira proveito dos vendavais dos interesses temporais e das tempestades dos desejos de satisfação material para solidificar mais ainda a sua união com Deus. O espírito precisa de um corpo para existir e este corpo é como, nos dizeres de Jesus, a sua casa. É sua função ir transformando-a até sua espiritualização. Nesta posição seu corpo não lhe será um peso, nem fonte de seus conflitos. Pois, se espiritualizando, seu objetivo será amar e servir a Deus.

—Que bonito! Vou gostar de ir às palestras.


—Vamos, Patrícia — vovó me convidou a continuar.


Levantei e a segui. Voltaria ali com certeza, porque num lugar tão belo e agradável poderia ficar o dia todo contemplando.


Embora encantada com tudo o que via, sentia ser a Colônia um lugar querido e conhecido. Retornara ao lar eterno, o verdadeiro.


—Patrícia, ali está o Teatro; logo a trarei para que conheça. É o Salão de Conferências.


—Salão de Conferências ou Teatro?


—Logo entenderá que aqui ouvirá termos diferentes para designar um local. Termos divergem aqui e de uma Colônia para outra, como de região para região. Por exemplo: salas ou quartos de banho para banheiro.


Departamentos e Ministérios. São muitos os termos, é só prestar atenção.


Vovó foi conversando, dizendo como era a casa, os nomes das amigas, etc.


Passamos por uma avenida toda arborizada, com casas dos dois lados. As casas, todas com jardins e muitas flores.


—Vovó, não é tempo de plantas florirem assim. Aqui sempre há flores?


—Temos as flores a enfeitar e a nos alegrar em todas as épocas do ano. Cuidamos das plantas com carinho. Os moradores cuidam das de suas casas. Aqui elas duram mais, são alimentadas pela mente de quem plantou.


Ela sorriu me animando. Paramos. A minha frente estava uma casa muita bonita, circundada por um pequeno jardim, com muitas flores a bailar com a brisa suave. Sorri, amei aquela casa.


—Entremos — vovó disse pegando minha mão.


Atravessamos o jardim e uma pequena área coberta. Vovó abriu a porta de vidro. Na sala de visitas, estavam as moradoras. Reunidas esperavam-nos para me dar as boas-vindas. Sorrindo, foram dizendo seus nomes.


—Oi, Patrícia, sinta-se à vontade.


—Seja bem vinda, menina, queira Deus que a tenhamos por muito tempo.


Vovó não exagerou, suas amigas eram agradáveis e simpáticas.


Observei a sala: era grande, mobiliada com bom gosto, sem exagero, os móveis parecidos com os que usam os encarnados. Sofás, poltronas, cadeiras, mesas, vasos de flores, quadros de bom gosto enfeitavam as paredes de cor clara. Vendo-me meio vexada.


Vovó Amaziles veio em meu auxílio:

—Patrícia, você necessita descansar. Venha conhecer a casa e seu quarto. A sala enorme dava para uma outra com uma mesa e várias cadeiras.


Nesta segunda sala, uma porta dava para uma área e outra, para um corredor que leva aos quartos.


Achei muito bonitos os lustres. Diferentes e práticos. Nas Colônias, Postos de Socorro, quando é dia na Terra para os encarnados é também aqui. À noite vemos estrelas, lua, é também escuro. A Colônia, à noite, é iluminada por luz artificial, a energia usada é solar e de outra fonte que os encarnados nem imaginam ainda. As ruas, avenidas, praças são bem iluminadas, não são usados postes como para os encarnados. É como se a Colônia fosse uma sala e uma só lâmpada a clareasse. Os prédios têm lustres para cada cômodo, como nas residências. A claridade é controlada para forte, média e pouca claridade. As pessoas a controlam conforme suas necessidades. As noites nas Colônias são de rara beleza. A primeira vez que vi a Colônia iluminada, passei horas a contemplá-la. As árvores, as flores, tudo parece quietar e adormecer. Não há cantos escuros.


—Aqui está seu quarto! — disse vovó.


Ela abriu a terceira porta do corredor e ali estava meu quarto. Achei lindo. Arejado, grande, com um lustre belo e delicado em formato de botão de rosa. Tinha uma cama, armário, uma mesa-escrivaninha, duas poltronas e uma porta que dava para um banheiro. A decoração era toda cor-de-rosa bem clarinho. Meus olhos fixaram-se na janela. 


Encantei-me com a maravilhosa surpresa.

A janela estava aberta dando a visão bonita da parte direita do jardim.


A janela tem um delicado beiral de madeira clara e nela estavam vários vasos de violetas. Vasos floridos, com violetas coloridas e lindas.

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