domingo, 27 de agosto de 2017

A Escola 
Dois dias depois, Maurício veio me buscar para me levar à escola.

Ela está situada numa área enorme. 

Encarnada, ouvi, no Espiritismo,
falar das Escolas no Plano Espiritual, referindo-se muito ao aprendizado que se faz quando desencarnado. Mas pouco sabia o que vinha a ser este aprendizado. Quem gosta de aprender, interessa-se sempre por estas escolas. Há escolas por todas as Colônias, são sempre grandes e acolhedoras. A que descrevo, a da Colônia São Sebastião, é linda. Está numa área com vários prédios, é repartida em alas, designadas por letras.


O objetivo é bem claro, deveria ser o mesmo sempre em todos os planos: instruir. Na escola há cursos de conhecimentos, mas o principal ensino é o Evangelho, a Moral Cristã. Há muitos cursos para ensinar a viver desencarnado, como os que fiz de Volitação e Alimentação. Os cursos têm tempo marcado de duração. São poucos os orientadores e professores que moram na escola. Na Colônia São Sebastião, as moradias na escola são só para alojamentos. Muitos alunos moram lá durante o curso.


Entre um prédio e outro, há pátios e jardins. A escola toda é cercada com muitas árvores, flores e recantos agradáveis com bancos, onde alunos revêem a matéria, estudam, trocam idéias e conversam animados.


Maurício e eu rumamos para a Ala D. Enquanto andávamos, foi me esclarecendo:


—Aqui estão todas as salas de aula da Colônia. O estudo aqui abrange até certo grau. Aqueles que após cursá-lo querem continuar a estudar podem ir a outras Colônias maiores ou às Colônias de Estudos.


—São muitos os que querem estudar?


—Infelizmente não. Aqui tudo é facilitado. Não se pode dar as desculpas que encarnados dão para não estudar. Mesmo assim, estuda uma parte somente dos moradores. A continuação dos estudos abrange somente um apequena porcentagem. Estuda-se para ter conhecimentos.


—Como são estas escolas em Colônias de Estudos?


—Chamamo-las de Colônias de Estudos, embora cada uma delas tenha um nome. É um tipo de escola que para os encarnados seria uma Universidade, abrangendo conhecimentos maiores em várias Ciências.


Estas Colônias são só escolas, ou melhor, há nelas somente locais de estudos, de pesquisas, e as moradias de professores e alunos.


—Maurício, se um aluno indagar algo que não sei, que faço?


—Diga simplesmente que não sabe, que irá indagar para responder.


Você dará somente aulas de Português e Matemática. Eles perguntam mais nas aulas de Iniciação Evangélica e Moral Cristã, aulas dadas por professores experientes, que resolvem ou dão orientações a todos os problemas dos alunos. Agora vou apresentá-la a D. Dirce, a coordenadora da Ala D. 


A Ala D dá para um pátio. Tudo é simples como toda a escola, pintada de cor clara e muito limpa. Maurício bateu numa porta em que estava escrito:

Orientadora. D. Dirce nos recebeu alegremente. 

—Oi, Patrícia, que bom tê-la conosco. Maurício, se quiser pode ir. Até logo! Você, Patrícia, ficará comigo, mostrarei o método que usamos para alfabetizar.

Entramos na sala da orientadora, que é mobiliada com muito bom gosto, mas simplesmente.


Entusiasmada ela me mostrou o método que usam.

Encantei-me com o modo prático e simples de ensinar. Os planos de aulas já estão prontos, muito bem elaborados.

Observei D. Dirce, fala da escola e dos alunos com entusiasmo e alegria. Percebeu o que eu pensava, não me surpreendi. Aqui, a maioria sabe ler pensamentos. 

Disse delicadamente.

—Patrícia, amo ensinar, amo o que faço, amo esta escola! Venha, mostrarei esta ala a você.


Todas as classes davam para o pátio. As salas são pequenas, no máximo para quinze pessoas cada uma, isto para facilitar o aprendizado.


Salas pequenas estão nesta ala, há salas de aula de diversos tamanhos na escola. D. Dirce bateu em uma das classes.


—Esta é a sala em que vai trabalhar.


A porta abriu e o professor nos recebeu sorrindo. D. Dirce nos apresentou como também aos alunos.


—Esta é Patrícia, que irá substituir Clóvis; este é o professor que licenciará.


Gostei deles e senti que eles gostaram de mim. Logo após conhecer todos, saímos. D. Dirce continuou esclarecendo-me.


Você irá substituir Clóvis que, por motivo de família, pediu licença.


Estranhei com este “pediu licença”. D. Dirce explicou.


—Patrícia, aqui tentamos aprender a servir por Amor. Todo trabalho é um aprendizado e não sacrifício. Certamente ao adquirir responsabilidade não deixamos nossos afazeres sem pedir aos nossos superiores. E, quando fazemos, é por motivo justo.


Clóvis, a quem irá substituir, está conosco há três anos, seu filho desencarnou e vaga em sofrimento.

Pediu licença para ver se consegue ajudar o filho e os familiares encarnados.

Um pedido assim é comum aqui, sua avó, para ficar com você, pediu licença por um período do seu trabalho.


—Tudo bem organizado! — não pude deixar de exclamar.


Voltei para casa com meus planos, começaria a lecionar no dia seguinte. Em casa li-os e planejei o melhor modo de dar aula.


Contente, no dia seguinte lá estava bem antes do horário marcado.


Conheci os outros professores da Ala D, muito simpáticos, todos foram gentis comigo. Lenita, uma das professoras, se ofereceu para me ajudar e orientar no que precisasse. Gostei dela e nos tornamos amigas.


Minha classe tinha doze alunos, senhores e senhoras, pessoas simples, quietas e tímidas. Ali não usamos o termo senhor e senhora nem eles me chamavam de dona, tratavam-me por você. Só nos referíamos ao tratamento respeitoso a D. Dirce.


Iniciei a aula. Normalmente tinha que repetir as explicações, corrigir caderno por caderno. Eles não desanimavam, queriam aprender. Eu com paciência ensinava prazerosamente. Acostumamo-nos logo uns com os outros.

Lenita morava perto da casa de vovó, voltávamos da escola juntas, porque ela lecionava dois períodos e íamos em horário diferente.


Conversávamos muito, desencarnou jovem como eu, vinte anos, é inteligente, poetisa, temos os mesmos objetivos e interesses.



Lenita é clara, usa uma longa trança nos cabelos e a joga do lado, que vem até a cintura, é muito bonita. Falando em beleza, os moradores da colônia são na maioria bonitos. Acho que é por dois motivos.


Primeiro, a gente passa a vê-los como irmãos queridos. 

Segundo, porque os moradores são de paz, estão se equilibrando, tentando harmonizar-se. As pessoas assim, lindas interiormente, são agradáveis, portanto bonitas.

—Patrícia, fiz o curso que irá fazer, é maravilhoso, irá gostar.


Está sempre incentivando e elogiando a todos. Ela não gosta de falar de si, insisti para que contasse sua história.


—Desencarnei há muitos anos, fui assassinada. Foi bem triste e cruel. Sofri muito. Estava noiva, amava e era amada. Ao voltar do trabalho, à tardinha, sozinha, um homem me rendeu, me amarrou, tampou minha boca e me levou para um local isolado. Me estuprou e feriu com uma faca, largando-me num buraco. Desencarnei com muita dor e agonia.


Socorristas me desligaram e levaram para um Posto de Socorro. Julguei que ainda estava viva, encarnada, não acredite, não queria nem pensar que desencarnara; iludi-me de tal modo que até esqueci o que acontecera, só queria sarar e voltar para perto dos meus. 


Como não me levaram, fugi, fui para a casa terrena. Decepcionei-me muito e fiquei magoada. Nada era como antes, meu noivo nem sentiu minha falta como eu pensei. Já namorava outra. Comecei a enlouquecer. Meus ferimentos voltaram, triste, fiquei a vagar. Só então entendi que desencarnara, pedi a Deus ajuda com sinceridade. Novamente fui socorrida. Desta vez, sem ilusão, magoada e triste, tive que fazer um longo tratamento para me recuperar. Estava revoltada com a maldade, a lembrança do acontecimento bárbaro fazia-me entrar em crise de desespero. Foi necessário recordar parte do meu passado, de uma outra existência, onde vi a ação que fiz para ter esta reação. Fui no passado distante um mercador de escravas jovens e bonitas, negociava-as para homens de maus instintos. 

Curada, adaptada, vim para esta Colônia estudar e trabalhar. Hoje sou feliz. Minha triste história não me incomoda mais.

—Ficou sabendo quem foi seu assassino?


—Sim, fiquei. Mesmo quando revoltada, não quis me vingar. Fiquei magoada mais pela maldade, do que com ele. Perdoei logo. Este irmão que me tirou a vida física sofreu muito. Não foi preso, mas a reação de seus erros veio em seguida. Tanto sofreu encarnado, como sofre desencarnado. —Não pensou em ajudá-lo?


—Sim. Não faz muito tempo, pude com permissão tentar ajudá-lo no Umbral. Fui até lá. Não aceitou nem me ouvir. Ao me ver, gritou que era culpada por ele estar sofrendo. Que certamente fui dar queixa a Deus e Ele o colocou no inferno. Meus instrutores me aconselharam a deixá-lo.


Um dia ele entenderá, se arrependerá com sinceridade e será socorrido.


Oro muito por ele.


Que bonita lição podemos tirar da história de Lenita!


O trabalho da escola me fascinava. Dediquei-me tanto, que estava conseguindo ótimos resultados. D. Dirce estava contente comigo e Maurício não pôde deixar de sentir orgulho quando ela me elogiou a ele.


Depois, estava trabalhando, ganhando meus bônus-horas. Receber meu primeiro bônus-hora foi superagradável. Agora, não iria depender mais da vovó nem dos amigos para ir ao teatro, às salas dos computadores, lugares que gosto de ir. Alegrei-me tanto ao recebê-lo que fiquei orgulhosa, foi como receber encarnada meu primeiro ordenado. A sensação de auto-suficiência é agradável, não ser peso, ser útil, poder colaborar é o máximo. Não estava lecionando só por este motivo. Trabalho é um bênção. Mas fiquei toda importante com os “meus” bônus, os que ganhei trabalhando.


Tudo que narro poderá parecer a muitos uma ficção. Mas o que é a morte senão uma nova etapa da vida?

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